Sunday, October 22, 2006

Descanso

-Já perdi a fala e agora o que me resta é somente a voz do olhar. Já travei meus passos, não sou mais forte, sou escasso, nem ao menos consigo gritar. Meu bom senhor, querido amigo. Não posso mais estar convosco. É passada a hora, só me resta ir embora, ainda no espaço do agora preciso encontrar a luz pra me guiar. Nada posso dizer, mas imploro: Por piedade, lê meus olhos. Eles gritam não vês? Minha voz está toda neles, e infelizmente é a única maneira que tenho para berrar.
Os olhares se entrecruzaram no quarto. Seis olhos. Muitos olhares. Dois olhos castanhos, dois olhos verdes e dois olhos em lágrimas.

- Doutor, faz tempo que eu irmão aqui reside, para mim é estranho admitir, mas com a alma em pedaços agora admito para mim mesma que não há nada a se fazer. A cura não existe. Irreversível é o que é. Vegetas? Vegetal era a violeta que eu trouxe na semana passada para cá. Ele não é mais nem isso. A violeta floresceu, ele nem isso. Ontem a violeta morreu, ele... Nem isso.
- Não posso dizer que imagino ou que sei como se sentes, não seria eu mesmo se o dissesse. Ele sofre nesta morte viva. Você sabe, percebe. Normal você culpar o karma, destino, traços do desenho da vida, acaso, ou até mesmo a inexistente explicação que não se revela, os braços atados e o que mais houver.

Naquele momento a moça triste olha os olhos em água do que estava deitado em gritante sofrimento mudo, então respira fundo. Solta um suspiro da alma, sem nem ao menos perceber, seca o rosto. Arruma os cabelos. Da um sorriso de entendimento ao médico e ao ente. Há tempos não sentia lucidez e leveza.
- Me olhem! Ouçam meu olhar! Cansei de constantemente continuar. Como dizer que “o nada” continua? Nada nem existe, nada não vive! Nada não é nada, e é isso que sou.
Meu único pertence realmente meu dentre tudo o que tenho é a espera. Espero não mais ter que esperar. Tira-me o peso dos ombros. Nem ombros e nem peso sinto. Não sou homem, nem ao menos mito.

O médico consente. O médico deixa a sala.
Agora ali apenas havia os olhos da irmã, e os gritos que piscavam lentamente em desesperada súplica.
Agora ali estavam apenas os lábios e a testa, o beijo. Dois olhos fechados. Agora só um suspiro de alivio.
Dois olhos se abriram uma lágrima correndo, encontrando o lábio que sorria. O outro olhar não mais se mostraria, nunca mais gritaria. Ao som do bip constante do aparelho que em um só toque contínuo revelava que o olhar não se mostrava, pois o coração não mais batia.
Agora e por bem só um olhar que chorava sorria. O outro partira e talvez em seu alívio e descanso, longe da matéria também sorrise.

3 comments:

Anonymous said...

Embora não pareça, não só longe da matéria é possível sorrir. Olha o auto-boicote... Ele não mostra nada? E o sentir, o não sentir... Desejos fundamentais da alma, atos a quem nada importa dificilmente tocará... Dificilmente arrancará algum tipo de sentimento. Mas nem só de atos os momentos se fazem... Nada precisa de um sentido, depende da necessidade de cada alma... Se a mente comanda tudo, basta ter um mínimo controle pra designar propósitos... Ainda que fúteis, ridículos, indiferentes!!! Vou contar carneirinhos, a subliminaridade as vezes me proporciona sonolência. Luv ya...

Anonymous said...

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Anonymous said...

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