Sunday, September 24, 2006

O quadro da névoa

Ela corria apressada com a pressa de quem precisa esquecer. Ela perdia o ar, mas continuavam na dança das lembranças com as quais não conseguia mais conviver.

Era tarde. Noite feita. Ninguém pela rua, só o sereno. Caso ela fosse vista de longe, lhe serviria como adorno – seria perfeita para um quadro em névoa, se fosse pintura - mas era apenas angústia, nada mais.

Agora sobre a ponte, grande ponte de se ultrapassar, como ritual ela escolheu a obra colossal, como se a ultrapassando, os seus limites os seus medos que a estavam sufocando lhe deixassem por permanecer do outro lado. Teriam eles o medo do que havia por debaixo da passante.

Tudo agora já parecia distante, tudo a que ela se apegava crendo que assim deixaria o mal no passado, engano, ainda estava com o enorme fardo.

Se é que mortes transcendem culpas, ela tentaria; se é que cansaço ultrapassa razão, ela saberia; se é que angustia passa com o tempo, com isso ela não mais se enganaria.

Estava só. Há muito não ficava assim. Estava mal, mas se alguém estivesse por perto seria por pouco tempo, pois ela não iria suportar, haveria de fugir e de qualquer maneira, qualquer meio que pudesse percorrer paralelo a escolha daquele momento levaria ao mesmo caminho, não havia destino diferente dentre todos os possíveis.

Assim mesmo, ela que em nada se segurava a crer, pensava agora que tudo era parte de um jogo de cartas marcadas automaticamente muito antes de alguém pensar em nascer, muito antes de qualquer coisa ocupar lugar. Existência.

Todos se prendem à vida através de fé. Isso ela não tinha, agora longe daquela ponte agonizante, já perto das águas mais a seu nível, na beira do mar da sorte ela percorria o caminho tortuoso e errático que levava ao mesmo caminho que todos os outros, ao mesmo lugar. Não haveria de ser diferente, a menos que ela não fosse ela mesma e num piscar de olhos se tomasse em outra mente, outra vida, outra personalidade. Isso é, sua salvação apenas existia num sonho infantil, numa utopia que ela não ignorava, até pensava, mas sabia totalmente que a isso ela não poderia se apegar.

- Como é que as pessoas convivem umas com as outras? Muitos lidam bem com a morte, isso eu até entendo, mas como lidar com a vida? Nisso eu não me fixo, não pertenço, não me reconheço – dizia ela em voz alta pra si mesma.

Mais próxima da água ela andava, a sorte lhe molhava os pés, mas não lhe convidava a si. Seus pensamentos faziam ondas intensas, ela estava mais tensa. Estava cada vez pior, cada vez mais humana. Cada vez mais temida por si mesma.
Continuava a corrida. Inesgotável até ali. Ofegante, mas firme, nem um pouco hesitante. Ela só tinha a ela mesma, suas lembranças, seus horrores, a sorte a molhar seus pés e o terror de continuar daquele jeito. Mais por dentro da água, com até a cintura já coberta pela sorte ela continuava, incansável, mas não passava, queria um fim para aquilo, mas ainda a água era demasiada rasa.
Corria mais, quanto mais difícil fosse mais força aparecia inexplicavelmente para ser usada e, então, ela caiu.

Algumas bolhas na água, e o horror passou. Não vejo mais nada. Só a sorte pura ali está, mas ninguém por cima ou nela sendo vista a trafegar.

2 comments:

Anonymous said...

Cada vez mais interessante seus textos hein? Adorei esse, mto profundo e tals... Uix LoL
Luv ya amore!
:**

Anonymous said...

morri com o uix acima
kkkkkkkkkk

amo tuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu

;*
bjo ag
nao sei botar meu nome

uahuahuahua

ESPERTA